Scorsese filma a vida de Frank Sinatra


por André Rito

Depois de anos de negociações, a história de Ol' Blue Eyes vai chegar ao cinema


O realizador Martin Scorsese foi o escolhido pela família de Frank Sinatra para levar a vida de Ol' Blue Eyes ao grande ecrã.

De acordo com os estúdios Mandalay Pictures, que vão produzir o filme, este não vai ser "um retrato tradicional dos eventos na vida do homeme desde o berço até à morte". Antes, "uma colecção de vários momentos e impressões da vida dele".

A vida do actor e cantor - de acordo com a revista Rolling Stone um dos maiores intérpretes de música popular do séc. 20 - já foi contada num tele-filme; esta é a primeira longa-metragem sobre ele.

O guião é da autoria de Phil Alden Robinson, nomeado para os Óscares pelo filme "Campo de Sonhos".

As negociações com os herdeiros de Sinatra sobre a melhor forma de contar a história levaram vários anos. A filha, Tina Sinatra, vai ser a produtora executiva do projecto.

Scorsese escolheu:
Al Pacino será Sinatra
O realizador tem protagonistas: Al Pacino e Robert de Niro

Seria sempre uma questão de tempo. A vida épica de um cantor como Frank Sinatra chegaria, mais tarde ou mais cedo, ao grande ecrã. A dúvida era saber que realizador estaria à altura de uma história tão rica como a do homem que o mundo apelidou de A Voz.

Martin Scorsese soa, por isso, a uma decisão natural. Falta agora desfazer uma última dúvida: qual o actor para o papel principal? Ele responde: Al Pacino.

Numa recente entrevista ao diário "The Hindu", o realizador afirmou que a sua escolha recaía sobre o actor americano descendente de italianos (tal como Sinatra): "Al Pacino é a minha escolha. O papel de Dean Martin [amigo de Frank Sinatra] será desempenhado por Robert de Niro.

" Com os protagonistas definidos, falta apenas ultimar o roteiro, que deverá centrar-se em diferentes períodos da vida do músico americano.

"Não podemos fazer uma história sobre os grandes momentos da carreira dele. Seria impossível. A melhor forma é focar em três ou quatro períodos distintos: jovem, meia-idade e velho. E fazê-lo através da música. O que não significa ser uma tarefa simples", explicou.

A biografia do autor americano tem sido motivo de especulação um pouco por toda a imprensa. Em agosto do ano passado, uma reportagem do "New York Post" sugeria alguns desentendimentos entre o realizador a e filha do músico, Tina Sinatra, que assina a produção-executiva do filme. Segundo o artigo, Tina queria o papel principal para George Clooney, enquanto Scorsese teria pensado no seu colaborador habitual, Leonardo di Caprio.

A discussão estendeu-se também aoroteiro. Segundo a fonte do jornal, o realizador queria centrar a película no lado menos conhecido do cantor, contra a vontade da filha de Frank Sinatra. "Martin quer o lado mais privado dele, do álcool e da violência, mas Tina pretende uma abordagem mais soft, focada na música."

Recorde-se que Frank Sinatra esteve sob vigilância do FBI durante quase cinco décadas, devido a uma alegada ligação a figuras da máfia, como Carlo Gambino ou Sam Gincana. Simultaneamente, era amigo de John F. Kennedy.

Há quem defenda que o músico americano tenha inspirado a personagem de Johnny Fontane - na saga "O Chefão", de Francis Ford Coppola - um cantor que se queixa a Don Corleone de que um produtor de Hollywood lhe estaria a prejudicar a carreira. Numa das cenas mais famosas do filme, esse produtor acorda com uma cabeça de cavalo na almofada ao seu lado.

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Martin Scorsese e as maravilhas
do seu clube de vídeo digital

por Tiago Pereira

Martin Scorsese só podia ser um insatisfeito. Nada menos seria de esperar de quem assimilou toda a história do cinema - dos EUA à Europa -, a tornou sua e depois a desmontou em peças fundamentais da cultura dos últimos 50 anos.

Resta-lhe continuar a explicar os porquês desta paixão - entre os clássicos e os blockbusters -, e foi em The Auteurs (www.theauteurs.com) que encontrou a solução perfeita: uma rede social que oferece filmes, serve de clube de vídeo e convida à discussão. Cinefilia em rede, portanto.

Não façamos julgamentos precipitados ao ler a autoproclamada descrição do serviço: "cinemateca online". Na verdade, saudemo-la e conheçamos os pormenores. Este The Auteurs oferece o visionamento online, através de streaming (ou seja, sem transferência de ficheiros), de um catálogo construído entre o cinema com o carimbo "artístico", como citado pelos criadores do conceito. Basta escolher, entre o final dos anos 40 e obras recentes do novo século. De Jacques Tati a David Lynch e de volta ao início.

O exercício obrigou, em alguns casos, à missão de restauro de filmes que não tinham conhecido ainda as graças do digital. E aqui entra em cena a World Cinema Foundation, a organização criada por Martin Scorsese que tem como propósito único a procura de obras-primas de todo o mundo para posterior reprodução. Com The Auteurs, Scorsese continua a seguir esta regra como se de um manifesto se tratasse.

Outro dos objectivos delineados desde o início do projecto: desenvolver esforços para que os conteúdos cheguem ao maior número de internautas possível. Resposta ao desafio - a criação de uma plataforma semelhante à de um clube de vídeo de bairro. Em The Auteurs estão disponíveis filmes para aluguel a cinco euros, mas as propostas mais sedutoras estão nas assinaturas.

Por 18 euros, o membro da rede pode ver todos os filmes que quiser, sempre que entender. O serviço está já disponível em Portugal, com os mesmos conteúdos apresentados para o resto da Europa.

Mas ainda que Scorsese dê a cara pelo projecto e se mostre totalmente dedicado às suas vontades, os esforços de outros foram essenciais para que esta sala escura fosse agora portátil. Entre eles está Efe Cakarel, um antigo banqueiro, nome ligado ao Goldman Sachs que preferiu encaminhar-se para investimentos de outra classe.

E tudo porque as suas exigências não foram satisfeitas. Há tempos, e estando em Tóquio, Cakarel viu-se numa desesperada busca por filmes de Wong Kar-Wai. Na internet não descobriu consolo e desde logo se lançou no desenvolvimento de um projecto que pudesse resolver o mesmo problema junto de outros.

No meio de todo este enredo surge o milionário argentino Eduardo Constantini, que de produtor se transformou em atento patrono da arte cinéfila em perigo. É ele um dos responsáveis pela Criterion Collection, a entidade que organiza um festival de cinema online mensal (em www.criterion.com), totalmente gratuito, partindo de clássicos restaurados.

Em The Auteurs, cada membro da rede social (que pede apenas um endereço de email para efectivar uma inscrição) pode deixar o seu comentário a cada um dos filmes, gerando uma cadeia de críticos domésticos que deixam sugestões e reclamam pedidos.

Em conversa recente com a CNN, Efe Cakarel falava em "irmãos Coen, ou Tarantino" para o futuro próximo do catálogo, para figurar junto de nomes como Michael Winterbottom ou François Ozon. Mas com uma certeza: "Nunca vamos querer filmes do mainstream, apenas de entretenimento."
http://www.ionline.pt/