Música - Rita Redshoes


por Vanda Marques
14.06. 2010

Queria ser bailarina clássica, foi baterista amadora, até que em 2008 lançou "Golden Era". Rita Redshoes tem novo CD - "Lights&Darks"


Num pequeno gravador daqueles que ainda usam cassetes, Rita Pereira, perdão, Rita Redshoes grava os primeiros esboços de canções. Melodias trauteadas, letras, encontra-se lá de tudo.

Caso não haja gravador por perto, a cantora de 28 anos, recorre ao telemóvel. Mas a inspiração pode surgir nos locais mais inesperados, sem gravador por perto.

"Captain of My Soul", o single de apresentação de "Lights&Darks", segundo álbum depois de "Golden Era", nasceu quando estava dentro de água. "A música apareceu-me estava eu a tomar um banho de mar sozinha", explica ao i a artista.

Apesar de ter vários convidados no seu novo álbum, entre eles Paulo Furtado (Wraygunn, Legendary Tigerman), o saxofonista Danna Colley (ex-Morphine), o guitarrista José Pino (antigo membro do Conjunto Mistério) ou Ricardo Fiel (ex-Phase, David Fonseca), a cantora diz que foi um trabalho de isolamento. "Há um fechamento inicial que se prolonga nos primeiros meses. É um processo solitário, mas depois tenho necessidade de partilhar", explica.

As primeiras duas semanas de composição foram complicadas. Rita Redshoes rabiscava folhas para, pouco depois, as rasgar. "Há o mito entre os músicos de que o segundo disco é muito complicado. Acho que é mais o fantasma do álbum anterior. Tive de ser pragmática. Quero fazer muitos discos, não posso sofrer, se não isto vai ser um martírio", diz a rir.

Depois de viajar, Rita Redshoes encontrou o caminho para o herdeiro de "Golden Era". "Três viagens marcaram o estado de espírito do disco", conta. A ida ao Festival South by Southwest, no Texas, EUA foi uma delas.

"Gosto muito de folk e música country. Apesar de não estarem assim tão presentes no festival, esse espírito vem da América e vê-se nas lojas de música à beira da estrada”.

Um passeio por Florença, onde a cantora visitou museus e descobriu a pintura religiosa do Renascimento e por último as Maldivas completam o ramalhete. "A ida às Maldivas acabou por ser uma viagem ao passado e à minha infância. A única coisa que fazia era andar de bicicleta e ter os pés na água."

Então o que nos traz este "Lights&Darks"? O título é retirado de uma fala do filme de Wim Wenders, "O Estado das Coisas" e a artista quis seguir um novo rumo. "Este é um disco mais direto. As músicas são mais orgânicas e vivas, não estão tão orquestradas. O disco tem muitas emoções, passa do humor e do sarcasmo, para um lado mais introspectivo e solitário."

Rita, a baterista era uma enciclopédia de letras de músicas, decorava tudo, mas o seu sonho era ser bailarina clássica, de tutu e a dominar o plié. Cantava para os pais até que o irmão comprou uma bateria. "Comecei como baterista num grupo de teatro", recorda.


Pelo caminho ficou a dança. "Na adolescência desisti porque era tudo muito rígido. Não podia comer doces... Não estava para isso. Fiquei durante uns anos sem saber o que fazer até descobrir a bateria."

Quando o irmão, Bruno Pereira, formou os Atomic Bees, Rita começou a levar a música mais a sério. "Subi a um palco pela primeira vez e percebi que era aquilo que queria fazer. Pensei: 'Isto é muito divertido e faz muito mais sentido preencher os meus dias assim."

A epifania deu--se aos 14 anos e desde então Rita Pereira aplicou-se. Se aprendeu bateria por tentativa e erro, sozinha quando o irmão não estava em casa, o piano tornou-se disciplina de estudo.


Teve aulas de canto e há cinco anos encontrou o alter ego Rita Redshoes. "Quando comecei os Atomic Bees eram o meu mundo, mas queria fazer outras músicas que não se enquadravam." E assim nasceu a Rita dos sapatos vermelhos - um mix de "O Feiticeiro de Oz" com "Let's Dance", de David Bowie.


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