Fuck Buttons - o nome menos educado da melhor música eletrônica



por Tiago Pereira
15.06. 2010


Em entrevista, falam de concertos que são experiências sonoras e danças sem coreografia

Fuck Buttons é um dos nomes mais entusiasmantes da música contemporânea nascida em ambientes eletrônicos.


Correção: Andrew Hung e Benjamin John Power (Ben, para amigos e jornalistas do lado de cá do telefone) são adultos mal resolvidos com as suas paixões de adolescência, que insistem em procurar os meios mais inesperados para desenvolver experiências sonoras.

E é isto que lhes dá o tal entusiasmo. Se não vejamos: Ben está à conversa com o i ao mesmo tempo que atravessa Londres para "levantar um novo brinquedo". Claro que lhe perguntamos de que se trata, para não termos qualquer resposta.

"Ainda não sei se vou usá-lo no concerto de Lisboa". Recordemos - os Fuck Buttons atuam ao vivo no Lux, amanhã, às 23 h. Se tudo o que têm feito em disco não for desculpa suficiente para os querermos ver, que nos baste esta curiosidade.

Ser um Fuck Button, além de representar uma afronta em qualquer país anglo-saxónico, é quase como ser DJ. Isto no que respeita aos hábitos de consumo.

Ambos são seres caçadores-recoletores, mas enquanto os primeiros vivem para descobrir o disco ideal para a derradeira remistura, os Fuck Buttons lutam pela melhor fórmula sonora. Uma demanda que procura "magnetismo e eletricidade estática, manipulação rítmica e colorido sintetizado".

Expressões que continuaríamos a repetir, não fosse a atitude de Ben: "Estes termos técnicos não significam que somos gente esquisita, que só vê circuitos e processadores de efeitos. O que fazemos é um pouco como a música folk, compomos para o povo. O resultado final, o delírio, é que se manifesta de forma distinta."

Em disco, os Fuck Buttons manipulam os ensinamentos de diferentes escolas. Ben Power fala-nos de Stockhausen, Can ou Kraftwerk enquanto recorda noites de "clubbing nervoso".

Ficamos na dúvida e esclarecemos as origens de tudo isto - "o objetivo é a diversão, a nossa claro". Não há aqui música para dançar, não existe previsibilidade no ritmo: "A finalidade é sermos abrasivos, fazer com que o som seja envolvente, quase opressivo."

Como se uma banda com o carimbo pós-rock, dos Mogwai aos Godspeed You Black Emperor - temas de duração generosa em que a lei é crescer instrumentalmente até mais não ser possível - tivessem descoberto o valor secreto do ruído sintetizado.

"Há quem diga que somos uma banda de eletrônica progressiva. Raios. Não concordo, mas não consigo dizer que a frase está errada", desabafa o músico. "Gostava de saber o que diriam os Pink Floyd ou os Genesis se me ouvissem agora."

Até à hora do concerto, é imaginar os Fuck Buttons em cima do palco, os tais que dizem que "o duo é a melhor formação da história da pop" - e a conversa a viajar entre os Carpenters e os White Stripes; que "o som pode ser tão agressivo que há quem fale em mosh pits no meio da assistência"; que o volume "é alto, tem de ser alto, que é tudo uma questão de vivência física do que se está a ouvir".

Ben Power é perito em descrever as atuações da sua própria banda. Vai falando como se o marketing fizesse parte das suas competências. E não recusa nenhuma das teorias conspirativas que os procura associar a uma qualquer prateleira de loja de discos.

Aos que tratam os Fuck Buttons como banda de noise - ruído -, Ben responde com elegância: "Ruído tem uma definição, de acordo com as escolas de música. Se faz parte deste glossário, é porque nós o podemos usar à nossa vontade. Claro que o segredo está na forma como se faz tal abordagem. Essa sim, não é para todos."

E para quem lhes dá pouco tempo de vida no mercado americano, uma pequena lição de geografia: "A América é difícil porque é muito grande, porque tem gostos muitos distintos e palcos atrás de palcos. Até os Beatles tiveram receio de não ter sucesso na América, ainda que por muito pouco tempo."

A conclusão: esperemos por uma jam session pouco habitual - "há quem diga que os nossos concertos têm algo de metafísico, parece-me exagerado mas aceito", diz Ben Power; por um Lux que não vai acolher danças mas sim contemplações; e por uma boa dose de curiosos que vai procurar estar atento a cada um dos recursos (leia-se brinquedos) que o duo apresentar em palco, a fazer listas no telemóvel para entupir os pedidos no eBay depois de uma noite reveladora.

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