40 anos sem Janis Joplin


Dave Getz grava música inédita de Janis Joplin nos quarenta anos da sua morte, a 4 de outubro de 70. Ela tinha apenas 27 anos.

Dave Getz, o baterista da Big Brother and the Holding Company, banda original de Janis, revela “Can’t be the Only One”, uma canção que ele e Janis escreveram em 68, pouco antes de “Cheap Thrills”, um dos 500 maiores álbuns de todos os tempos segundo a revista Rolling Stone.

“Algumas pessoas me lembraram que este é o 40º aniversário da morte de Janis”, Getz disse, de sua residência em Fairfax. “Eu nem mesmo pensei nisso quando decidi gravar a canção, e nem foi tentando explorar o aniversário que estou lançando isso agora. Eu apenas pensei que deveria colocar esta canção no mundo, para fazer parte da minha música. É algo que tenho que dizer.”

No verão de 68, Janis e a Big Brother ensaiavam em Manhattan quando Getz apareceu com um pequeno riff de blues no piano que se tornaria a base de Can’t be the Only One.
“Eu disse, ouçam isto, e todos começaram uma jam em cima desta base,” ele relembra. “Janis disse Ei, eu gosto disso. Vou escrever umas palavras para ela”.

E foi o que ela fez. Bem nesta época, enquanto os críticos em Nova York falavam mal da Big Brother (alegando que eles não estavam no nível de Janis enquanto músicos), ela convocou os companheiros em seu quarto no hotel para anunciar a carreira solo.

“Nós sabíamos que aconteceria,” Getz recorda. “Tínhamos este temor havia algum tempo. Foi duro. Quando penso nisso agora, sabendo o que sabemos, eu gostaria que tivéssemos pressionado ela para ficar um pouco mais. Mas sabíamos que aconteceria, e estávamos todos cansados.”

Em meio à turbulência profissional e decepção pessoal, Getz jogou a letra em uma caixa, onde ficaria pelos próximos 40 anos. “Eu mostrava essa letra às pessoas como peça de memoria,” ele diz.

“Até que um dia, eu li novamente e comecei a pensar nela nos termos do que conheci sobre Janis e sua história, e me ocorreu que não eram apenas palavras sem um significado, que ela apenas largou lá. Era autobiográfico”.

“Eu nem mesmo pensei naquilo quando decidi gravar a canção...,” disse Dave Getz, segurando uma foto tirada em 68, dele tocando bateria com Janis. ”Ela viu que sua própria tragédia estava prestes a se revelar”(..) Ela ainda sentia dor e solidão apesar de todos os elogios, e aquele sofrimento era despejado em suas letras”.

Ela escreveu. “Tire este coração solitário desta garota solitária.”
Em outra linha, ela negocia com o lado sombrio da fama. “Chegar tão alto, querido, não posso evitar de me queimar. Vinte e cinco anos de sofrimento (ela tinha 25 em 68) e você acha que agora eu aprendi”.

Ano passado ele entrou em estúdio com uma banda de músicos escolhidos à dedo, chamada Dave Getz Breakaway, para gravar a faixa. Ironicamente, Kathi McDonald, que substituiu Janis na Big Brother há tantos anos atrás, cantou os vocais principais. Duas versões da canção “Can’t be the Only One” estão no CD que traz outras oito que Getz escreveu.

Para a posteridade, ele emprestou a letra original de Janis, escrita à mão para o Marin Rocks, o museu da história do rock a ser aberto em San Raphael. “Houve oportunidades de gravar passado, mas por alguma razão, minha mente nunca esteve naquele ponto de enxergar a importância da canção e a possibilidade de fazer algo realmente bom com isso. Mas agora eu a gravei como eu acho que a Big Brother a teria tocado”, Getz disse

Vida
Janis Joplin foi muito mais do que a única branca a alcançar reconhecimento interpretando blues (reduto de músicos negros, principalmente quando consideradas artistas do sexo feminino), foi também cantora de rock, dona de uma voz incomparável, e capaz de imprimir às músicas que cantava uma marca inconfundível de interpretação e sensualidade.

Nasceu em Port Arthur, Texas, a 19 de janeiro de 1943, em família humilde e conservadora que não aceitava facilmente o caminho que ela havia escolhido. Já na adolescência cantava blues e folk inpirada por Bessie Smith, entre outras cantoras.

Em 66 se mudou para a Califórnia e juntou-se à banda Big Brother and The Holding Company. Em poucos meses Joplin tirou a banda da obscuridade, logo assumindo sua liderança (a princípio havia sido chamada apenas para fazer backing vocals).

Com esta banda Janis Joplin gravou o álbum Big Brother And The Holding Company em 67 e Cheap Trills (um de seus melhores) em 68.
Em busca de mais liberdade de decisão nos rumos que sua carreira tomava Joplin abandonou a banda Big Brother para formar a sua própria, The Kozmic Blues Band.

Seu primeiro álbum como artista solo, I Got Dem Ol' Kozmic Blues Again Mama. O resultado porém não foi tão bom quanto o esperado, pois embora a sua nova banda tivesse melhores músicos e melhores condições, não tinha a espontaneidade e sintonia que caracterizaram seus trabalhos anteriores.

Em busca da sonoridade mais simples e eficiente Joplin reformou sua banda com o novo nome de Full Tilt Boogie Band. As mudanças no estilo foram imensas e para melhor, com uma sonoridade que destacava seu vocal que havia se desenvolvido sensivelmente.

Em meio às gravações do álbum Pearl, Janis foi encontrada morta, vítima de overdose de heroína e álcool, ainda com as marcas de agulhas nos braços. O álbum foi lançado com as faixas para as quais ela já havia gravado os vocais. Ironicamente a música Mee and Bob McGee foi o maior sucesso de sua carreira, dois meses após a sua morte.
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