Carlos Drummond de Andrade reeditado


Reedição de "Alguma Poesia" revela obra inacabada e marcante


por Carolina Oms
11.6. 2010


"Como você sabe, eu tenho um livro de versos como todo brasileiro digno e de óculos."
Drummond em carta a Mário de Andrade


Há 80 anos Carlos Drummond de Andrade publicava Alguma Poesia. Era o primeiro livro do poeta e foi pago por ele próprio, em várias prestações.

A estreia de Drummond trazia poemas que se sobressaíram na época e que estão formalmente associados à figura do poeta até hoje, como "Poema de Sete Faces"


(Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raymundo seria uma rima, não seria uma solução), "No Meio do Caminho" e "Quadrilha" (João amava Teresa que amava Raimundo).

Para comemorar a data, o Instituto Moreira Salles lançou "Alguma Poesia: O Livro em Seu Tempo", edição especial organizada pelo poeta Eucanaã Ferraz que traz um fac-símile do volume que pertenceu ao próprio Drummond, com anotações manuscritas de mudanças que o poeta incorporaria nas edições seguintes.

A publicação também reúne cartas de amigos e críticos comentando o livro e uma rica amostra das resenhas e artigos publicados pelos jornais em 1930 e 1931.

A obra também mudou a vida do João Cabral de Melo Neto, conta Eucanaã, ele considerava poesia "uma coisa de moças". Na avaliação do organizador, a força do livro fica nítida na importância e na marca única que ele deixou em uma obra tão vasta como a de Drummond.

A reprodução do fac-símile foi uma sugestão do seu neto, Pedro Drummond. Sobre o antigo livro, já bem amarelado, as notações de Drummond, que, para Eucanaã, "dão a noção de que uma obra de arte pode não estar pronta quando aparece a primeira vez e de que poesia é uma coisa muito trabalhosa".

Como nos trechos de "Cidadezinha qualquer", onde Drummond posteriormente trocou cachorro por homem:


"Um cachorro vai devagar, Um cachorro vai devagar, Um burro vai devagar." E no famoso “Quadrilha”, onde o J. Pinto Fernandes realmente não tinha entrado na história, na primeira edição, ele se chamava Bredorodes:


"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para o Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com Brederodes que não tinha entrado na história".


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