A escola que virou clube de strip


A desertificação de Illinois

18.06. 2010
Onde havia crianças e professores há agora

varões e dançarinas. Ficaram as tabuadas nas paredes

Nas paredes da velha Pioneer School, os símbolos não parecem ter mudado muito desde os anos 80: uma tabuada de multiplicação numa parede, um exemplar da Constituição noutra.

Mas à entrada do refeitório, onde várias gerações de alunos desta localidade rural do centro do Illinois almoçaram, um anúncio revela a escala da mudança sofrida pelo velho edifício de tijolo de barro amarelado: "As nossas bailarinas são animadoras e não prostitutas, por isso nem pergunte!"

O edifício, vendido pela direção escolar local em 2002, reabriu recentemente como clube de striptease, para choque dos residentes de Cumberland County - muitos dos quais cruzaram os corredores e salas quando crianças e só uma semana antes da reabertura descobriram qual seria a nova utilização do espaço.

Os que querem ver o clube de striptease encerrado protestam regularmente. Numa prece dirigida aos frequentadores para que tomem consciência dos caminhos ínvios que percorrem, afixaram uma pequena cruz iluminada e um cartaz onde se lê: "A sua família sabe por onde anda? Jesus sabe."

"Não queremos este tipo de porcaria no nosso município", diz Bill Moran, de 70 anos, que vive do outro lado da rua. "O resultado de um sítio destes são violações, doenças venéreas e muitos divórcios."

Outros, entre os quais os donos, dizem que se trata de um empreendimento legal que veio beneficiar a localidade com a criação de postos de trabalho.

"Não acho mesmo que seja mau, já que está a ajudar em termos financeiros", diz Danny Reed, de 25 anos, electricista, que diz nunca ter ido ao clube. "É uma terra pequena. Ou temos trabalho na bomba de gasolina ou estamos desempregados."

Situado a cerca de cinco quilómetros da localidade, o clube, de seu nome School House (Casa da Escola), tira muito partido do historial do edifício. Nas paredes estão pendurados retratos dos presidentes dos EUA a par de um exemplar do Pledge of Allegiance [juramento de lealdade à bandeira e ao país] e os proprietários converteram uma sala de professores num espaço para festas privadas. O antigo refeitório abriga agora um pequeno palco, com dois varões de latão.

Bob Kearney, de 40 anos, eletricista desempregado, é, com Travis Funneman, co-proprietário do negócio, que descreve como "acima de qualquer suspeita".

"Não havia impedimento urbanístico algum", diz Kearney, acrescentando que publicou os editais requeridos por lei no jornal local a anunciar a sua intenção de abrir um negócio, embora omitindo um importante aspecto. "Ninguém nos contatou. É verdade que não dissemos que íamos abrir um clube para cavalheiros."

O clube não tem licença para vender bebidas alcoólicas (embora os frequentadores possam levar caixas frigoríficas com cerveja em lata), o que explica por que razão não foi necessário passar por outros trâmites legais.

"É como se tivessem avançado de mansinho ao abrigo do nosso ângulo cego", diz Robert Swearingen, presidente da assembleia de Cumberland County.

Alguns vizinhos já se queixaram de ter encontrado frequentadores do local bêbados, no perímetro das suas propriedades. No entanto, a maioria dos residentes diz que o fato de eles frequentarem uma antiga escola primária é duplamente odioso.

"É uma corrupção das minhas recordações", diz Michelle Porter, de 33 anos, antiga aluna.

Kearney, que diz ter gasto milhares de dólares a remodelar o edifício, afirma: "Se essas pessoas têm memórias tão gratas do local, deviam ter vergonha, porque estava a ruir."

As vinte e tantas dançarinas têm idades entre 19 e 46. Numa noite normal, um par de strippers trepa e desliza no varão ao som de Van Halen, perante um grupo apático de uns dez homens.

Uma das mulheres, que trabalha para completar os seus estudos, diz que já chegou a ganhar cerca de 700 dólares numa noite no clube - o único num raio de 100 quilómetros -, mas está chocada com a recepção do município. "Chamam-nos pegas", diz a dançarina, cujo nome de guerra é Gigi. "Dizem que se deve odiar o pecado e amar o pecador, mas fica-se com a sensação de que nos querem mandar para o Inferno", conta.